Neste dia 18 de março aconteceu a primeira A Hora da Leitura.
Nosso projeto que, envolvendo toda a comunidade
interna escolar, tem com um dos principais objetivos criar um ambiente lúdico
e prazeroso de leitura aconteceu no primeiro tempo de aula de cada turno de
modo a que todos os presentes na unidade escolar naquele momento estivessem
vivenciando a mesma experiência de leitura.
O texto escolhido, indicado pelo
professor Daniel André, foi Do Diário
do Imperador, de Cecília Meireles.
Para o desenvolvimento da
atividade, cada professor teve a oportunidade de escolher a melhor estratégia
a ser aplicada, considerando-se as características de sua turma.
Leia o texto e a sugestão de
roteiro de leitura:
Texto: Do diário do imperador
Acabo de ler o diário do
Imperador Dom Pedro II, escrito
exatamente há um século. Por essas pequenas anotações, pode-se acompanhar um
ano da sua vida, amostra suficiente das dificuldades com que o Brasil tem
lutado sempre para entrar no bom caminho, para melancolia e desânimo de seus
mais devotados servidores.
Assim mesmo se exprimia o
imperador: "Muitas coisas me desgostam; mas não posso logo remediá-las e
isso aflige-me profundamente. Se ao menos eu pudesse fazer constar geralmente
como penso! Mas para quê - se tão poucos acreditariam nos embaraços que
encontro para que eu faça o que julgo acertado! Há muita falta de zelo. e o
amor da pátria só é uma palavra - para a maior parte !"
A respeito de certo boato
que se espalhara, comenta, com desgosto: "Tudo inventam; e triste política
é a que vive de semelhantes embustes
quando tantos meios honestos havia de fazer oposição: mas para isso é necessário estudar as necessidades da
nação - e onde está o "zelo?"
(A palavra "zelo"
ocorre numerosas vezes neste diário: é essa "dedicação ardente", essa
"diligência", que o imperador não encontra na maior parte dos que,
no entanto, por função, estão encarregados dos problemas nacionais, E isso lhe
causa sofrimento.)
Os moços de hoje deviam ler
estas palavras, e entendê-las: "Na educação da mocidade é que sobretudo
confio para a regeneração da pátria. Gritam que se não pôde chegar ao poder
senão fazendo oposição como a fazem; mas, quando no poder, não sofrem do mal
que fomentaram? A imprensa é inteiramente
livre, como julgo deva ser, e na Câmara e no Senado a oposição tem representantes;
mas que fazem estes pela maior parte?"
Os homens públicos deviam
também meditar sobre esta passagem: " ... Mas tudo custa a fazer em nossa
terra e a instabilidade do ministério não dá tempo aos ministros para
iniciarem, depois do necessário estudo, as medidas mais urgentes. É preciso
trabalhar, e vejo que não se fala quase senão em política, que é, as mais das
vezes, guerra entre interesses individuais".
Há neste pequeno diário, de
um ano e cinco dias, variadas observações sobre agricultura, teatro, ciência,
educação; impressões de visitas a diferentes estabelecimentos educacionais e
industriais; breves apontamentos sobre ministros e personalidades do tempo.
Terminada a leitura, parece-nos que estamos na mesma, que o século não passou;
apenas as pessoas mudaram de nome. Tanto vagar para as coisas mais urgentes!
Tantas lutas mesquinhas em todos os bastidores! Tantas rivalidades, invejas,
palavras capciosas, intriguinhas sórdidas! E o imperador, há cem anos, escrevendo:
"A falta de zelo; a falta de sentimento do dever é nosso primeiro defeito
moral. Força é contudo aceitar suas conseqüências, procurando, aliás, destruir
esse mal que nos vai tornando tão fracos".
Dom Pedro II deixou fama de sabedoria, e comparando-se as
modestas (mas importantíssimas) observações de seu diário com a verborragia
demagógica de que ainda somos vítimas, e dos males que a acompanham, compreende-se
que muita gente desesperada até pense em tornar-se monarquista.
Mas convém não esquecer
estas palavras do próprio imperador: "Nasci para consagrar-me às letras e
às ciências; e, a ocupar posição política, preferiria a de presidente da
República ou ministro à de
imperador".
Sejamos, pois,
republicanos, democratas, estudiosos, honestos, justiceiros, e cultivemos o
zelo de bem servir à pátria, aos homens, às instituições. Neste particular,
estamos com um século de atraso.
(MEIRELES, Cecília. Escolha
o seu sonho. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961)
HORA DA LEITURA
1 – Identificação da Obra
Autor: Título:
Editora Cidade
da publicação: Ano
de publicação:
2 – Leitura Deleite (Contato com o texto).
3 – Que sentimentos foram provocados pelo texto? (Impressões
pessoais provocadas pela leitura do texto).
4 – Qual a mensagem apresentada no texto? (Identificação
e fixação mediada do tema).
5 – Qual a opinião do autor sobre o tema apresentado?
Que argumentos ele utilizou para defender seu ponto de vista? (Leitura reflexiva norteada pelo tema e
identificação do ponto de vista e da argumentação apresentada pelo autor).
6 – Qual a sua opinião sobre o tema tratado no texto?
Você concorda ou discorda do autor? Por quê? (Expressão crítica do leitor sobre
o tema apresentado pelo texto e pelo autor).