A Hora da Leitura do mês de julho tratou de um assunto que vem afligindo pais e educadores: O Bullying.
Assim, a Hora da leitura revelou-se como mais uma oportunidade de debatermos e analisarmos, de forma coletiva possíveis soluções para esse grave problema no cotidiano escolar.
Texto parcial:
Bullying Escolar: O Outro Lado da Escola
Autor: Cleo Fante.
Graduada em História e Pedagogia. Pós-graduada em Didática do Ensino Superior.
Doutoranda em
Ciências da Educação. Pesquisadora pioneira no Brasil, sobre o Bullying
Escolar.
Data: 08/02/2011
É comum encontrar entre os adultos uma
quantidade considerável que tráz consigo as marcas dos traumas que adquiriram
nos bancos escolares. Esses atos agressivos, intencionais e repetitivos, que
ocorrem sem motivação evidente, em desigualdade de poder, caracterizam o
bullying escolar.
Sem termo equivalente na língua
portuguesa, que expresse sua abrangência e formas de ataques, o tema desperta
crescente interesse e preocupação entre os pais e profissionais das áreas de
educação, saúde e segurança pública.
Fatos
comprovam que os papéis dos protagonistas e as formas de maus-tratos empregadas
se intensificam, conforme aumenta o grau de escolaridade. Geralmente, os
ataques são produzidos por um grupo de agressores, reduzindo as possibilidades
de defesa das vítimas. As estratégias de ataques, normalmente, são ardilosas e
sutis, expondo as vítimas ao medo, à humilhação e ao constrangimento público.
Os agressores se valem de sua força física ou psicológica, além da sua
popularidade para dominar, subjugar e colocar sob pressão, o "bode
expiatório". Entretanto, torna-se evidente entre eles a insegurança, a
necessidade de chamar a atenção para si, de pertencer a um grupo, de dominar, associado
à inabilidade de expressar seus sentimentos e emoções. Por isso, a escolha das
vítimas, privilegia aquelas que não dispõem de habilidades de defesa. Com o tempo, as vítimas se sentem solitárias,
incompreendidas e excluídas de um contexto que prima pela inclusão de todos. As
conseqüências do bullying incidem no processo de socialização e de
aprendizagem, bem como na saúde física e emocional, especialmente das vítimas,
que se isolam dos demais, carregando consigo uma série de sentimentos negativos
que comprometem a estruturação da personalidade e da auto-estima, além da
incerteza de estarem em um ambiente educativo seguro, onde possam se
desenvolver plenamente.
O bullying é um fenômeno psicossocial
expansivo, por isso considerado epidêmico, comprometedor do pleno
desenvolvimento do indivíduo, por suas conseqüências psicológicas, emocionais,
sociais e cognitivas, que se estendem para além do período acadêmico.
São
cinco os papéis que caracterizam este fenômeno: vítimas típicas, vítimas
provocadoras, vítimas agressoras, agressores e espectadores. Algumas
constatações entre os envolvidos: é comum que quem sofreu alguma das formas de
ataque reproduza os maus-tratos sofridos; os tipos de conseqüências são
abrangentes, de acordo com as características de cada indivíduo e das
características psicodinâmicas de sua família; as vítimas encontram dificuldade
de buscar ajuda e quando buscam sentem dificuldade de serem compreendidas, além
do temor em relação à resposta dos pais, ou de que a sua denúncia agrave ainda
mais o seu problema.
Dessa forma, estamos diante de um
grande desafio. As dimensões identificadas do problema nos remetem a olharmos
para a lacuna que se evidencia na convivência familiar e escolar, pois é
notório entre os alunos a carência afetiva e a ausência de modelos humanistas
que lhes sirvam de referencial. Por isso, é necessário que as instituições de
ensino invistam em conscientizar seus profissionais, pais e alunos sobre a
relevância desse tema e desenvolvam estratégias preventivas, em parcerias com
os diversos segmentos sociais, visando educar para a paz. E que a prática da
solidariedade, cooperação, tolerância, empatia, respeito às diferenças e
compaixão caracterizem a atitude de amor das instituições de ensino e da
família, em busca da construção da paz.