Texto: Variedades linguísticas
É por meio
da língua que o homem expressa suas idéias, as idéias de sua geração, as idéias
da comunidade a que pertence, as idéias de seu tempo. A todo instante,
utiliza-se de acordo com uma tradição que lhe foi transmitida e contribui para
a renovação e constante transformação. Cada falante é, a um tempo, usuário e
agente modificador de sua língua, nela imprimindo marcas geradas pelas novas
situações com se depara. Nesse sentido, pode-se afirmar que na língua
projeta-se a cultura de um povo, compreendendo-se cultura no seu sentido mais
amplo, o conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e
de outros valores espirituais e materiais e características de uma sociedade
transmitidos coletivamente.
Ao falar, um
indivíduo transmite, além da mensagem contida em seu discurso, uma série de
dados que permite a um interlocutor identificar a que grupo pertence.
A entonação, a
pronúncia, a escolha vocabular, a preferência por determinadas construções
frasais, os mecanismos morfológicos podem servir de índices que identifiquem:
·
o
país ou a região de que origina
·
o
grupo social a que pertence
·
a
situação (formal ou informal) em que se encontra
As
diferentes maneiras de se “usar” uma língua gera uma grande variedade
lingüística.
Se alguém afirmasse
“Estes gajos que estão a esperar o elétrico são uns gandulos”, não se hesitaria
em classificá-lo como falante de Língua Portuguesa, em sua variante lusa.
Se por outro lado
ouvisse “Se abanquem, se abanquem, tchê!”, ficaria claro que se tratava de um
falante da Língua Portuguesa, em sua variante
brasileira, natural do Sul do país.
O Brasil, em
decorrência do processo de povoamento e colonização a que foi submetido e
devido à sua grande extensão, apresenta grandes contrastes regionais e sociais,
estes últimos perceptíveis mesmo em grandes centros urbanos, em cuja periferia
se concentram comunidades mantidas à margem do progresso.
Um retrato fiel,
atual, de nosso país teria de colocar lado a lado: executivos de grandes
empresas; técnicos que manipulam, com desenvoltura, o computador; operários de
pequenas, médias e grandes indústrias; vaqueiros isolados em latifúndios;
cortadores de cana; pescadores artesanais; plantadores de mandioca em humildes
roças; pombeiros que comerciam pelo sertão; indígenas aculturados.
Nos grandes centros urbanos, as variantes lingüísticas
geram entre falantes o preconceito lingüístico, e muitas pessoas são
discriminadas por sua forma de falar. No entanto, alguns escritores
aproveitaram esse fator para caracterizar as personagens que criaram, pois
perceberam a riqueza presente nas variantes regionais. Jorge Amado e Graciliano
Ramos enriqueceram a literatura brasileira com personagens marcantes como Pedro
Bala, Gabriela e Alexandre.
(BRANDÃO, Sílvia Figueiredo. A Geografia lingüística no Brasil. in
Série princípios. São Paulo. Ática,1991)
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