Vinicius de Moraes
(Rio de Janeiro,
19 de outubro de 1913
— Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980)
foi um diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta
e compositor brasileiro.
Poeta essencialmente lírico, o poetinha
(como ficou conhecido) notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e
apreciador do uísque, era também conhecido por ser um
grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua
vida.
Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro,
cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell,
João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra.
Vida
Marcus Vinicius de Moraes nasceu em 1913 no bairro
da Gávea,
no Rio de Janeiro,
filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e
violinista amador, e Lídia Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de
quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a
família para o bairro de Botafogo
em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto, onde
já demonstrava interesse em escrever poesias.[3] Em 1922, a sua mãe adoeceu e a
família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador,
ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, em Botafogo, para terminar o curso
primário.[4]
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo
Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos mais tarde, tornou-se amigo dos irmãos
Haroldo
e Paulo Tapajós,
com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas
de amigos.[5] Em 1929, concluiu o ginásio e no
ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje
integrada à Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do
Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio
Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes
graduou-se em
Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Três anos depois, obteve o emprego de censor
cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos mais tarde,
Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e
literatura inglesas na Universidade de
Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como
crítico de cinema
no jornal "A Manhã". Tornou-se
também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos
Bancários.
No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro
concurso para o Ministério
das Relações Exteriores (MRE). Em 1943, concorreu novamente e desta
vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950,
Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo
diplomático em Paris e em Roma,
onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque
de Holanda.
No final de 1968
foi afastado da carreira diplomática tendo sido aposentado compulsoriamente
pelo Ato
Institucional Número Cinco
O poeta estava em Portugal, a dar uma série de
espectáculos, alguns com Chico Buarque e
Nara Leão, quando o regime militar emitiu o
AI-5. O motivo apontado para o afastamento foi o seu comportamento boêmio que o
impedia de cumprir as suas funções. Vinícius foi anistiado (post-mortem)pela
Justiça em 1998. Em 2006, foi oficialmente reintegrado na carreira diplomática.
A Câmara dos Deputados brasileira aprovou em Fevereiro de 2010 a promoção póstuma do
poeta ao cargo de "ministro de primeira classe" do Ministério dos
Negócios Estrangeiros - o equivalente a embaixador, que é o cargo mais alto da
carreira diplomática. A lei foi publicada no Diário Oficial do dia 22.06.2010 e
recebeu o número 12.265.[6]
Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua
peça de teatro "Orfeu da Conceição", em 25 de setembro de
1956. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou
a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -,
quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na
década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual
foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias
com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.
Nos anos 1970, já consagrado e com um novo
parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius
seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.
Na noite de 8 de julho de 1980,
acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de
Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na
madrugada do dia 9 de julho,
Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com
dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou
socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve
tempo e Vinicius de Moraes morreu pela manhã.
Carreira
artística
O
começo
No fim dos anos 1920, Vinicius de Moraes produziu
letras para dez canções gravadas - nove delas parcerias com os Irmãos
Tapajós. Seu primeiro registro como letrista veio em 1928,
quando compôs (com Haroldo) "Loira ou Morena", gravado em 1932
pela dupla de irmãos. Vinicius teve publicado seu primeiro livro de poemas, O Caminho
para a Distância, em 1933, e lançou outros
livros de poemas nessa década. Foram também gravadas outras canções de sua
autoria, como "Dor de uma Saudade" (composta com Joaquim
Medina), gravada em 1933 por João
Petra de Barros e Joaquim Medina, "O Beijo Que Você Não Quis
Dar" (composta com Haroldo Tapajós) e "Canção da Noite"
(composta com Paulo Tapajós), ambas gravadas em 1933 pelos Irmãos Tapajós e
também "Canção para Alguém" (composta com Haroldo Tapajós), gravada
pelos mesmos um ano depois.
Ainda na década de 1930, Vinicius de Moraes
estabeleceu amizade com os poetas Manuel Bandeira, Mário de Andrade
e Oswald de Andrade.
Em sua fase considerada mística, ele recebeu o Prêmio
Felipe D'Oliveira pelo livro Forma
e Exegese, de 1935. No ano seguinte,
lançou o livro Ariana,
a Mulher.
Declarava-se partidário do Integralismo,
partido brasileiro de orientação fascista.[7]
Mudança
de fase
Nos anos 1940, suas obras literárias foram
marcadas por versos em linguagem mais simples, sensual e, por vezes, carregados
de temas sociais. Vinicius de Moraes publicou os livros Cinco Elegias (1943),
que marcou esta nova fase, e Poemas,
Sonetos e Baladas (1946); obra ilustrada com
22 desenhos de Carlos Leão.
Atuando como jornalista e crítico de cinema
em diversos jornais, Vinicius lançou em 1947,
com Alex Vianny, a revista Filme. Dois anos depois, publicou em Barcelona o livro Pátria Minha.
De volta ao Brasil no início dos anos 1950, após servir ao Itamaraty nos Estados Unidos, Vinicius começou a
trabalhar no jornal Última Hora,
exercendo funções burocráticas na sede do Ministério
das Relações Exteriores.
Em 1953, Aracy de Almeida gravou "Quando Tu
Passas Por Mim", primeiro samba de sua autoria.
Escrita com Antônio Maria,
a canção foi dedicado à esposa Tati de Moraes -e marcava também o fim do seu
casamento. Ainda naquele ano, Vinícus foi para Paris
como segundo secretário da embaixada brasileira. Aracy de Almeida também gravou
"Dobrado de Amor a São Paulo" (outra parceria com Antônio Maria), em 1954.
Orfeu
e o amigo Tom
Em 1954, Vinícius publica sua coletânea de poemas, Antologia
Poética,[8][9] mesmo ano que publica sua peça
teatral Orfeu da Conceição,
premiada no concurso do IV Centenário de São Paulo e publicada na revista
"Anhembi". Dois anos depois, quando Vinicius buscava alguém para
musicar a peça, e aceitou a sugestão do amigo Lúcio
Rangel para trabalhar com um jovem pianista, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim,
que na época tinha 29 anos e vivia da venda de músicas e arranjos nos
inferninhos de Copacabana.[10]
Do encontro entre Vinícius e Tom nasceria uma das
mais fecundas parcerias da música brasileira, que a marcaria definitivamente.
Os dois compuseram a trilha sonora,
que incluía "Lamento no Morro", "Se Todos Fossem
Iguais A Você", "Um Nome de Mulher", "Mulher
Sempre Mulher" e "Eu e Você" e foram lançadas em
disco por Roberto Paiva, Luiz Bonfá e Orquestra]]. A peça estreou no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro. Além destas canções, a dupla Vinicius e Tom
compuseram, entre outros clássicos, "A Felicidade", "Chega
de Saudade", "Eu Sei Que Vou Te Amar", "Garota de Ipanema", "Insensatez"',
entre outras belas canções.
Entre 1957 a 1958, o diretor de cinema francês Marcel Camus filmou "Orfeu do
Carnaval" no Rio de Janeiro, filme este que recebeu o nome de Orfeu Negro. Vinicius compôs para o
filme "A Felicidade" e "O Nosso Amor". Um ano
depois, o filme seria contemplado com a Palma de Ouro no Festival de
Cinema de Cannes e o Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro.
Em 1957, o poeta teve sua
carreira diplomática transferida para Montevidéu, onde permaneceu por três anos.
A
Bossa Nova
O ano de 1958 marcaria o início de
um dos movimentos mais importantes da música brasileira, a Bossa Nova. A pedra fundamental do
movimento veio com o álbum "Canção do Amor Demais", gravado
pela cantora Elizeth Cardoso.
Além da faixa-título, o antológico LP contava ainda com outras canções de
autoria da dupla Vinicius e Tom, como "Luciana", "Estrada
Branca", "Outra Vez" e "Chega de
Saudade", em interpretações vocais intimistas.
"Chega de Saudade" foi uma canção fundamental daquela novo movimento,
especialmente porque o álbum de Elizeth contou com a participação de um jovem
violonista, que com seu inovador modo de tocar o violão, caracterizado por uma
nova batida, marcaria definitivamente a bossa nova e a tornaria famosa no mundo
inteiro a partir dali. O nome deste violonista é João Gilberto. A importância do disco "Canção
do Amor Demais" é tamanha que ele é tido como referência por muitos
artistas como Chico Buarque e
Caetano Veloso.
Várias das composições de Vinicius foram gravadas
na metade final daquela década por outros artistas. Joel de Almeida gravou "Loura ou
Morena" (1956). No ano seguinte, Aracy de Almeida
gravou "Bom Dia, Tristeza" (composta com Adoniran Barbosa), Tito Madi gravou "Se Todos Fossem
Iguais A Você", Bill Farr gravou "Eu
Não Existo Sem Você", Agnaldo Rayol gravou "Serenata do
Adeus" e Albertinho Fortuna
gravou "Eu Sei Que Vou Te Amar". "O Nosso Amor"
e "A Felicidade" foram duas das canções mais lançadas no final
daquela década. A primeira foi gravada por Lueli
Figueiró e Diana
Montez, ambas em 1959. Já a segunda foi
lançada por Lueli Figueiró, Lenita
Bruno, Agostinho dos
Santos e João Gilberto.
Servindo ao Itamaraty em Montevidéu desde 1957,
Vinicius de Moraes deixaria a embaixada brasileira no Uruguai somente em 1960.
Suas canções continuaram sendo gravadas por muitos artistas no início dos anos 1960. Foram lançadas "Janelas
Abertas" (composta com Tom Jobim), por Jandira Gonçalves, e "Bate
Coração", (composta com Antônio Maria), por Marianna Porto de Aragão,
cantora cultuada na época como um das vozes mais poderosas de toda uma geração
de cantoras .
Soneto da Fidelidade
De
tudo, ao meu amor serei atento
Antes,
e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que
mesmo em face do maior encanto
Dele
se encante mais meu pensamento.
Quero
vivê-lo
em
cada vão momento
E em
seu louvor hei de espalhar meu canto
E
rir meu riso e derramar meu pranto
Ao
seu pesar ou seu contentamento.
E
assim, quando mais tarde me procure
Quem
sabe a morte, angústia de quem vive
Quem
sabe a solidão, fim de quem ama
Eu
possa me dizer do amor (que tive):
Que
não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
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