4 de junho de 2010

Comunicação IV


Texto: Variedades linguísticas
É por meio da língua que o homem expressa suas idéias, as idéias de sua geração, as idéias da comunidade a que pertence, as idéias de seu tempo. A todo instante, utiliza-se de acordo com uma tradição que lhe foi transmitida e contribui para a renovação e constante transformação. Cada falante é, a um tempo, usuário e agente modificador de sua língua, nela imprimindo marcas geradas pelas novas situações com se depara. Nesse sentido, pode-se afirmar que na língua projeta-se a cultura de um povo, compreendendo-se cultura no seu sentido mais amplo, o conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais e características de uma sociedade transmitidos coletivamente.
Ao falar, um indivíduo transmite, além da mensagem contida em seu discurso, uma série de dados que permite a um interlocutor identificar a que grupo pertence.
A entonação, a pronúncia, a escolha vocabular, a preferência por determinadas construções frasais, os mecanismos morfológicos podem servir de índices que identifiquem:
·        o país ou a região de que origina
·        o grupo social a que pertence
·        a situação (formal ou informal) em que se encontra
As diferentes maneiras de se “usar” uma língua gera uma grande variedade lingüística.
Se alguém afirmasse “Estes gajos que estão a esperar o elétrico são uns gandulos”, não se hesitaria em classificá-lo como falante de Língua Portuguesa, em sua variante lusa.
Se por outro lado ouvisse “Se abanquem, se abanquem, tchê!”, ficaria claro que se tratava de um falante da Língua Portuguesa, em sua variante  brasileira, natural do Sul do país.
O Brasil, em decorrência do processo de povoamento e colonização a que foi submetido e devido à sua grande extensão, apresenta grandes contrastes regionais e sociais, estes últimos perceptíveis mesmo em grandes centros urbanos, em cuja periferia se concentram comunidades mantidas à margem do progresso.
Um retrato fiel, atual, de nosso país teria de colocar lado a lado: executivos de grandes empresas; técnicos que manipulam, com desenvoltura, o computador; operários de pequenas, médias e grandes indústrias; vaqueiros isolados em latifúndios; cortadores de cana; pescadores artesanais; plantadores de mandioca em humildes roças; pombeiros que comerciam pelo sertão; indígenas aculturados.
Nos grandes centros urbanos, as variantes lingüísticas geram entre falantes o preconceito lingüístico, e muitas pessoas são discriminadas por sua forma de falar. No entanto, alguns escritores aproveitaram esse fator para caracterizar as personagens que criaram, pois perceberam a riqueza presente nas variantes regionais. Jorge Amado e Graciliano Ramos enriqueceram a literatura brasileira com personagens marcantes como Pedro Bala, Gabriela e Alexandre.
(BRANDÃO, Sílvia Figueiredo. A Geografia lingüística no Brasil. in Série princípios. São Paulo. Ática,1991)

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